O Cardeal Sandri apela para a coleção da Sexta-feira Santa de 2022 | Custodia Terrae Sanctae

O Cardeal Sandri apela para a coleção da Sexta-feira Santa de 2022

Caro irmão em Cristo,

Na homilia do Domingo das Palmas de 2021, o Santo Padre utilizou palavras muito fortes para falar da Paixão do Senhor: «Isto nos surpreende: ver o Omnipotente reduzido a nada…ver o Deus do universo despojado de tudo. Porque deixastes fazer isto? Fizeste-o por nós, para tocar até ao fundo a nossa realidade humana, para atravessar toda a nossa existência, todo o nosso mal, para aproximar-te de nós e não nos deixar sós na dor e na morte…elE experimenta na sua carne as nossas contradições mais laceradas, e assim as redime, as transforma» (Papa Francisco, homilia de 28 de Março de 2021).

O Papa Francisco ao longo do ano 2021 viveu duas peregrinações de esperança entre as comunidades cristãs do Médio Oriente e da Terra Santa: esperando contra toda a esperança, enquanto o mundo era ainda sob a pandemia, quis alcançar alguns entre os mais sós e sofredores: os nossos irmãos e irmãs do Iraque, terra de Abraão, terra do exilio, terra que soube conservar o nome de Cristo, não obstante a violência da guerra as perseguições. Ao seu lado com a oração e com o afecto, também nós percorremos as estradas de Mossul, de Qaragosh, mantivemo-nos em oração na catedral siro-católica de Bagdad em memória das testemunhas assassinadas a 31 de Outubro de 2010 enquanto estavam celebrando a liturgia, que o Oriente define como “o céu na terra”. Naquele dia a terra se colorou de sangue e escombros, e no entanto, como crentes, reconhecemos que se libertou a luz da Páscoa da Paixão e Ressurreição e se difundiu o bálsamo e o perfume daqueles que seguem o Cordeiro imolado até ao dom da vida. Também em Chipre e depois na Grécia, terras da pregação apostólica, o Papa se confrontou com o sofrimento da divisão: de uma terra, dos povos, dos próprios crentes em Cristo, que ainda não podem sentar-se à mesma messa da Eucaristia, daqueles que chegaram numerosos procurando refúgio e acolhimento. Não faltaram outros apelos, gestos e convites para a paz para outras terras que a História da Salvação e os acontecimentos bíblicos nos convidam a compreender como "Terra Santa".

Perante estes gestos do Santo Padre que testemunham o desejo de proximidade, de encontro, de trazer ao menos um pouco de alívio como se fosse a caricia do Nazareno, devemos ter a coragem – como singulares e comunidades cristãs – de nos interrogarmos: que coisa vejo, de que coisa me apercebo? Qual é o perímetro do meu olhar? Na Páscoa para a qual nos conduz o caminho quaresmal que iniciamos hoje, deixarei que o Senhor possa visitar as minhas e as nossas solidões? E ao Amor que virá a visitar-me saberei responder com o amor? O amor não se paga se não com amor!

Se em termos pessoais Cristo sofreu e morreu uma só vez e não pode morrer mais, no seu Corpo que é a Igreja, continua a sofrer, especialmente no Médio Oriente, mas também em qualquer outro lugar do mundo onde a liberdade de viver a fé é acalcada e impedida: pela perseguição em muitos casos, por vezes pelo ambiente hostil, frequentemente pela globalização da violência das guerras das quais infelizmente parece que a humanidade não está nunca livre, como acontece na Ucrânia.

Por dois anos consecutivos os cristãos da Terra Santa celebraram a Páscoa e o Natal numa espécie de isolamento, sem o calor e a amizade solidária dos peregrinos que visitam os Lugares Santos e as comunidades locais. As famílias sofreram outras medidas pela falta de trabalho mais que pelos efeitos imediatos da epidemia.

É por expresso desejo do Pontífice que se iniciou e se continua a celebrar a “Coleta Pro Terra Santa”, normalmente colocada no dia da Paixão salvífica do Senhor, a Sexta-feira Santa: não é nada de antigo ou ultrapassado, porque essa exprime antes de mais a consciência das nossas raízes que se encontram no anúncio da redenção que se difundiu a partir de Jerusalém e chegou a todos nós. O gesto da oferta, mesmo pequena, mas da parte de todos, como o óbolo da viúva, consente aos nossos irmãos e irmãs de continuar a viver e a esperar, a oferecer um testemunho vivente do Verbo feito carne nos Lugares e pelas estradas que viram a Sua presença. Se perdemos as nossas raízes, como poderemos ser, onde quer que nos encontremos no mundo, uma árvore que cresce e leva frutos de amor, caridade e partilha?

Olhando portanto para Cristo que tocou até ao fundo a nossa realidade humana, deixando-nos inspirar pelos gestos de proximidade realizados pelo Papa Francisco nas suas Viagens Apostólicas e acolhendo o seu convite para sermos solidários com os irmãos e as irmãs da Terra Santa, damos novo vigor e nova força à prática da Coleta da Terra Santa: através dos competentes Ofícios Diocesanos e graças à presença e ao trabalho em tudo o mundo dos Comissários da Terra Santa da Ordem dos Frades Menores vivamo-la cuidando também da sua preparação, através do testemunho, oração ou da simples celebração da Via Crucis. Em Jerusalém, Belém, Nazaré e em muitos outros santuários e mosteiros cada dia se celebra e se reza pela Igreja em todo o mundo, e nós somos convidados a recordarmos com o coração e com um pequeno dom, todos aqueles que pronunciam o nosso nome diante do Senhor, agradecendo a nossa generosidade. O material informativo que todos os anos é difundido nos ajuda a ver o fluxo de caridade e de vida que é possível graças à Coleta.

A si, aos Sacerdotes, aos Religiosos e aos Fiéis, que se empenham pelo bom resultado da Coleta, por fidelidade a uma obra que a Igreja pede que todos os seus filhos cumpram segundo as modalidades conhecidas, tenho a alegria de transmitir o vivo reconhecimento do Santo Padre Francisco. Enquanto invoco copiosas bênçãos divinas sobre a comunidade a si confiada, mando a mais fraterna saudação no Senhor Jesus.

✠ Leonardo Card. Sandri

Prefeito

✠ Giorgio Demetrio Gallaro

Arcebispo Secretario

 

Bollettino della Santa Sede