Arte italiana do Novecento nos santuários da Terra Santa | Custodia Terrae Sanctae

Arte italiana do Novecento nos santuários da Terra Santa

Os Museus Vaticanos fizeram-se de moldura, dia 19 de abril, na apresentação do volume Artisti italiani in Terrasanta. Pittori, scultori e artisti al lavoro nei santuari di Antonio Barluzzi [Artistas italianos na Terra Santa. Pintores, escultores no trabalho nos santuários de Antônio Barluzzi], (1914-1955), organizado por Bruno Mantura com Anna Maria Damigella e Gian Maria Secco Suardo (Coleção Studi e Documentazione, Ed. Museus Vaticanos, 2017).
Na primeira metade do século passado, numerosos artistas italianos trouxeram sua arte e profissionalidade aos santuáros cristãos da Terra Santa. Esse volume documenta amplamente a obra que, sob a sábia direção do engenheiro Antônio Barluzzi, torna-se testemunha da fervorosa vontade de renovação cultural e religiosa.
Longa e complexa pesquisa no arquivo possibilitou repercorrer rigorosamente essa empresa totalmente italiana, muita vez através da recuperação de material inédito e, até hoje, considerado perdido.
Sob a “batuta” de Barluzzi, indagando as peculiaridades criativas de cada artista – entre os quais Mário Bárberis, Luigi Trifóglio, Giúlio Aristide Sartório, Biágio Biagetti, Duílio Cambellotti e muitos outros – o volume analisa arquitetura, pintura, escultura e as várias decorações nos lugares de culto, além das intervenções de restauração: da Basílica da Transfiguração sobre o Monte Tabor, à Basílica da Agonia, no Getsêmani, até ao Santuário da Flagelação, em Jerusalém. Seguem as biografias dos artistas e alguns interessantes aprofundamentos: a pesquisa sobre a obra de Antônio Barluzzi, as vicissitudes históricas na Palestina sob o Império Otomano até a constituição do Estado de Isael e, por último, a biografia do eclético engenheiro.
Bárbara Jatta, Diretora dos Museus Vaticanos, abriu a série de intervenções e sublinhou o especial carisma de Antônio Barluzzi, terciário franciscano que, mais vezes, tentou emitir os votos: « Barluzzi era homem extraordinário, antes de tudo homem de fé e, depois, Arquiteto, que dedicou sua vida à construção de muitas igrejas e à restauração dos Lugares Santos. Conseguiu envolver muitos artistas importantes, exportando a arte italiana daqueles anos, artistas que tinham profunda reflexão sobre o sagrado ».
O Custódio da Terra Santa, Fr. Francesco Patton, recordou o horizonte temporal no qual se põe a apresentação do volume: a conclusão da comemoração dos oitocentos anos de presença franciscana na Terra Santa e que, em 2019, será o oitavo centenário da chegada de S. Francisco de Assis à Terra Santa. « É dentro de uma história de descoberta, recuperação e restituição pela Custódia de muitos santuários, que se insere a relação entre a Custódia e Barluzzi. Esse fervoroso Arquiteto católico, terceiro franciscano, continuamente tentado a entrar no convento, era profissional de extraordinária eficiência e organização formidável ».
Entre 1912 e 1955, Barluzzi projeta e restaura 24 construções, entre igrejas e hospitais. « Recordo com carinho a Basílica do Gesêmani, chamada das Nações porque envolve as nações que se haviam combatido [na Primeira guerra mundial] » recordou o Custódio, que concluiu:« Antes de Barluzzi, os projetistas inspiravam-se em formas neogóticas. Barluzzi não queria propor palavras já ditas. Era verdadeiro homem de fé, dotado de espírito religioso. Conformando toda a sua vida a uma visão austera, queria traduzir sua fé profunda numa Arquitetura capaz de envolver os fiéis ». Eis porque os novos santuários surgiram num duplo sentido: ser recordação precisa da vida de Jesus, pedispondo a abertura do coração. A Basílica do Getsêmani é ambiente que, de certa form, recria a noite, enquanto que a Basílica da Transfiguração é pensada como fonte de luz, pois Tabor, no qual se encontra a igreja, é experiência lumiosa.
Após a palavra de Matteo Lafranconi, Diretor da Escuderia do Quirinal, seguiu a fala conclusiva de Micol Forti, curador da Coleção de Arte contemporânea dos Museus Vaticanos, que recordou o laço profundo entre Barluzzi e a destinação litúrgica das obras que fez, e ateve-se na relação de Barluzzi com o contexto da Terra Santa, especial e vinculante. « A relação – sublinhou a Doutora Forti – não está mais entre tradição e inovação, mas provém da compreensão profunda da mensagem que esses lugares guardam ».

Antonello Sacchi - Terrasanta.net