A coleção para os cristãos da Terra Santa | Custodia Terrae Sanctae

A coleção para os cristãos da Terra Santa

Excelência Reverendíssima

O itinerário quaresmal que estamos a viver convida-nos a subir a Jerusalém pela estrada da cruz onde o Filho de Deus consumará a sua missão redentora. Nesta peregrinação somos acompanhados pelo Espírito Santo que nos desvenda o sentido da Palavra de Deus. Além dos Sacramentos, especialmente da Eucaristia e da Penitência, somos vivificados pelo jejum, a oração e a esmola. É este, pois, um tempo propício para nos avizinharmos de Cristo reconhecendo a nossa pobreza e os nossos pecados e viver a humilhação e aniquilamento do Filho de Deus "'que era rico, mas fez-Se pobre por vossa causa, para vos enriquecer com a sua pobreza" (2 Cor 8,9).
É, também, um tempo por excelência para nos tornarmos mais próximos dos outros através das obras de caridade, considerando que o caminho quaresmal não é um acto solitário, mas sim um itinerário de solidariedade no qual cada um é chamado a abeirar-se, como o fez o Bom Samaritano, colocando-se ao lado dos irmãos que têm dificuldades em levantar-se e a retomar a estrada por múltiplas razões.

Mais uma vez, este ano, a tradicional "Collecta pro Terra Sancta" de Sexta-feira Santa, será para os fiéis uma ocasião propícia para se unirem aos nossos irmãos da Terra Santa e do Médio Oriente. Infelizmente, desta zona, o grito de milhares de pessoas, que se encontram privadas de tudo, até ao limite da própria dignidade de homens, continua a sentir-se, ferindo os nossos corações e convidando-nos a abraçá-los na caridade cristã, fonte segura de esperança.
Sem o espírito de Cristo que "aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte, e morte de cruz" (Filip 2,7-8), o grito do irmão permanece inaudível e os rostos de milhares de pessoas desfavorecidas ficam na indiferença.

Qual poderia ser o modo melhor para meditar nesta Kenosis do Filho de Deus senão os próprios lugares que conservam, depois de mais de 2000 anos, a memória da nossa redenção? Indico, com particular atenção, as duas Basílicas: a da Natividade, em Belém, construída sobre a gruta onde nasceu Jesus; e a Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém, construída sobre o túmulo de Jesus, que se tornou o gérmen da vida com a Sua Ressurreição. Ambas, graças à colaboração e generosidade de tantíssimas pessoas de boa vontade, foram restauradas no ano passado. Edificar a Igreja da Terra Santa, nos seus edifícios e nas suas pedras vivas, que são os fiéis cristãos, é responsabilidade de toda a Igreja Cristã particular, conscientes de que a fé cristã teve como seu primeiro centro propulsor a Igreja Mãe de Jerusalém.

A comunidade católica da Terra Santa, nos seus diversos rostos, como seja o da Igreja latina da Diocese Patriarcal de Jerusalém, o da Custódia Franciscana e de outras Circunscrições, como o da Igreja dos orientais B greco-melequita, copta, maronita, síria, caldeia, armena B com as famílias religiosas e os organismos de todo o género, têm a vocação especial de viver a fé naquele contexto multirreligioso, político, social e cultural. Apesar dos desafios e inseguranças, as paróquias continuam o fazer o seu trabalho pastoral dando atenção preferencial aos pobres. As escolas são lugares de formação e encontro entre cristãos e muçulmanos, esperando, contra toda a esperança, um futuro de respeito e de colaboração. Os hospitais e os ambulatórios, os hospícios e os centros de encontro continuam a acolher doentes e necessitados, deslocados e refugiados, pessoas de todas as idades e religiões que foram atingidas com o horror da guerra.

Não podemos esquecer milhares de famílias, entre as quais crianças e jovens, que escapam da guerra na Síria e no Iraque, muitos dos quais em idade escolar, que apelam à nossa generosidade para retomar a vida escolástica e assim poderem sonhar com um futuro melhor.
Uma lembrança particular vai para a pequena comunidade cristã do Médio Oriente que continua a manter a fé entre os refugiados no Iraque e na Síria, ou na Jordânia e no Líbano assistida pelos seus pastores, religiosos e voluntários de vários países. Os rostos destas pessoas interrogam-nos sobre o sentido do ser cristão, as suas vidas em extrema dificuldade inspiram-nos. O Santo Padre Francisco na sua mensagem para a celebração da jornada mundial da paz deste ano afirma: "Com espírito de misericórdia, abracemos todos aqueles que fogem da guerra e da fome e que são obrigados a deixar as suas terras por causa das discriminações, perseguições, pobreza e degradação ambiental". Somos chamados a mostrar-lhes a nossa proximidade, concretizada através da nossa oração constante e mediante a ajuda económica, em particular depois da libertação da Planície de Nínive. Muitos cristãos iraquianos e sírios desejam retornar à sua própria terra onde as suas casas foram destruídas, onde escolas, hospitais e igrejas foram devastadas. Não os deixemos sós!

Todos somos convidados a retomar as peregrinações à Terra Santa, porque o conhecimento e a experiência vivida nos lugares da nossa redenção seguindo as pegadas de Jesus, Maria, José e os seus discípulos, ajudam a aprofundar a nossa fé e, também, a compreender o contexto em que vivem os cristãos da Terra Santa. As peregrinações constituem, entre outras, uma ajuda preciosa para a sobrevivência de milhares de famílias.
Nestes dias de preparação para a Páscoa, convido-vos fraternalmente a empenhar-vos em vencer o ódio com o amor, a tristeza com a alegria, rezando e trabalhando, para que a paz habite no coração de cada pessoa, especialmente no dos nossos irmãos da Terra Santa e do Médio Oriente.

A Vossa Reverência Senhor Bispo, aos Sacerdotes, aos Consagrados e aos Fiéis que se empenham para que esta Colecta seja bem conseguida, tenho a alegria de transmitir o vivo reconhecimento do Santo Padre Francisco, juntamente com a gratidão da Congregação para as Igrejas Orientais. Invocando sobre a sua pessoa e ministério pastoral, e sobre todos os fiéis da sua jurisdição, copiosas bênçãos divinas e a mais fraterna saudação no Senhor Jesus, desejo os melhores votos de uma feliz e Boa Páscoa.

Leonardo Card. Sandri
Prefeito
+ Cyril Vasil=, S.I.
Arcebispo Secretario