“Cristãos do Oriente - 2000 anos de História -”, em Paris: capitéis, inscrições, documentos do Terra Sancta Museum | Custodia Terrae Sanctae

“Cristãos do Oriente - 2000 anos de História -”, em Paris: capitéis, inscrições, documentos do Terra Sancta Museum

“De Jerusalém, o cristianismo difundiu-se rapidamente em todo o Oriente Médio: Egito, Síria, Líbano, Jordânia, Iraque. Ao longo da História, os cristãos do Oriente tiveram papel importante no desenvolvimento político, cultural, religioso e social, em algumas regiões do mundo”.
Dessa reflexão nasce a nova exposição-evento do Institut du monde arabe, que será inaugurada dia 26 de setembro, em Paris, na IMA: « Cristãos do Oriente. 2000 anos de História ».
A mostra será aberta na presença do Presidente da França, Emmanuel Macron, e encerrada no dia 14 de janeiro de 2018. Ela faz parte das manifestações que, no fim de 2017, celebram os trinta anos do Institute du monde árabe (IMA), sempre atento a enriquecer e oferecer melhor conhecimento do mundo árabe no Ocidente.

EXPOSIÇÃO ÚNICA. O evento serve como « uma exposição única » escreve Jack Lang (Diretor do IMA). Uns trezentos objetos, na verdade, alguns dos quais pela primeira vez serão expostos na Europa (preciosos manuscritos, ícones, mosaicos, ou afrescos do século III d.C. da domus ecclesiae de Doura Europos, na Síria) e provenientes dos maiores museus do mundo (Vaticano, Louvre, British Museum, etc) ilustrarão a milenária história das numerosas comunidades cristãs do Oriente: coptas, gregas, assírias-caldaicas, sírias, armênias, maronitas. “Uma história no plural”, que se desenvolveu entre o Mediterrâneo, Eufrates, Nilo, Bósforo, ao longo da era romana, bizantina, mussulmana, otomana até aos movimentos nacionalistas árabes. Entre esses, também nove objetos provenientes do Terra Sancta Museum, como, por exemplo, o esplêndido modelinho do Santo Sepulcro, feito de madeira e madre-pérola; uma inscrição funerária, uma madrepérola da Mater Dolorosa e um registro de 1616.
Será, portanto, « um mergulho no coração das culturas que participam da diversidade de nosso mundo contemporâneo e mergulham em nossa história », comenta Gérald Darmanin, Ministro de Negócios e Contas Públicas, Prefeito cessante da cidade de Tourcoing, que acolherá a mostra, de 17 de fevereiro a 05 de junho de 2018, no MUba Eugène Leroy.

A MOSTRA E OS OBJETOS EXPOSTOS. Uma primeira parte interessa aos séculos I – VI e terá como centro a evangelização, as primeiras comunidades cristãs e seu florescimento, os concílios, a origem das Igrejas orientais, o monaquismo e as peregrinações. Três esplêndidos capitéis bizantinos do VI século, tesouro do Terra Sancta Museum, mostrarão a beleza da Arquitetura cristã, desenvolvida ao multiplicarem-se os edifícios eclesiásticos, a partir da era de Constantino.
A segunda parte, a dos séculos VII ao XIV, mostrará temas ligados às Igrejas orientais, depois da conquista árabe, as vários intercâmbios intelectuais, artísticos e culturais, o desenvolvimento do idioma árabe na Liturgia, até chegar ao período dos Cruzados.
Entre as peças emprestadas pela Custódia da Terra Santa figura um precioso mosaico do VI século, mostrando o Monte Nebo na Jordânia (Khirbat al-Mukhayyat, igreja de S. Jorge). Esse apresenta a única inscrição em árabe do período pré-islâmico, conhecido na Síria-Palestina, uma fórmula de saudação fúnebre “bi-salam”, unida ao nome do arquidiácono falecido “Saola”, escrito à direita, em Grego.
A terceira parte é amostra dos séculos XV-XX, sobre a ideia de um mundo árabe unificado sob o Império otomano e as relações entre a “sublime porta”, as cortes e as diplomacias da Europa e as igrejas orientais (Católicas e Ortodoxas), com os objetivos de proteger os Lugares Santos. Sob esse argumento; o Terra Sancta Museum contribui com dois registros. Um de 1397, do sultão al-Malik al-Zaher Barquq, permitindo aos “Religiosos francos” de refazer certa parte caída no Santo Sepulcro. Um outro registro é de 1561, promulgado por Salomão, o Magnífico, que estabelecia nova residência para os Franciscanos, a saber, no Convento georgiano de S. Salvador, em Jerusalém, depois de serem obrigados a abandonar o Monte Sião. Entre os temas desta secção, encontra-se a esplêndida restauração artística dos ícones difusos, a partir do XVII século, desde Aleppo até Beirute, Jerusalém, Damasco e Cairo.

MEMÓRIA E FUTURO. A última parte, entre os séculos XX-XXI, aborda obras à luz do renascimento árabe, desde a queda do império otomano, do exílio, da imigração, o conceito “memória” de um patrimônio transmitido até os dias de hoje, mesmo fora das originais áreas geográficas.
Uma amostra fotográfica contemporânea com cenas de vida íntima e quotidiana dos cristãos de seis países árabes (Egito, Jordânia, Síria, Palestina, Iraque, Líbano) é a parte que encerra a exposição.
Mas, a exposição não tem apenas a finalidade de conservar um patrimônio cultural material, muitas vezes esquecido ou ameaçado por novos radicalismos religiosos difundidos no Oriente Médio, mas é também reflexão sobre o conceito de diversidade e multiculturalismo, tema muito atual na Europa. « Essa exposição sublinha, apesar de minoritária, a presença cristã no mundo árabe no Ocidente » comenta Fr. Stéphane Milovitch, Diretor dos Bens Culturais da Custódia da Terra Santa. Ante o fenômeno das imigrações, frequentemente se para demais no Islã, mas talvez precisaria considerar a contribuição que os numerosos cristãos do Oriente podem dar, com seu grande patrimônio cultural milenário a fim de construir nova Europa.

Corrado Scardigno - Terra Sancta Museum