Jerusalém, Santo Natal 2013 | Custodia Terrae Sanctae

Jerusalém, Santo Natal 2013

“Maria deu à luz seu filho primogênito,
envolveu-o em faixas e o depôs numa manjedoura”
(Lc 2,7)



O longo ano, que está chegando ao fim, viu um crescendo de violências. Sofremos por causa do envolvimento de muitos inocentes: crianças, velhos, mulheres, pobres de muitos países; por causa de muitas irmãs e irmãos cristãos, vítimas de discriminação, perseguição e martírio, no Oriente Médio e em várias partes do mundo. Um longo tempo em que nossa esperança foi sustentada pela oração e pela urgência em prestar ajuda. Sentimos fortemente a necessidade e o dever de manter firme nossa esperança, de quase defendê-la contra o repetido assalto de uma violência que parece irresistível. E tocamos com a mão a eterna verdade que o Natal encerra e o Evangelho revela.
A via da vida não passa pelas estradas do domínio e do poder, mas percorre as sendas escondidas de um amor que se faz frágil, que escolhe não impor-se.
Deus não nos salva com um gesto de força, mas com um humilde sinal de infinita disponibilidade, que se oferece a todos. Tínhamos necessidade de que a Onipotência se fizesse Criancinha. “O que é frágil para o mundo Deus o escolheu” (1Cor 1,27). Porque “nos basta Sua graça; e a força se manifesta plenamente na fragilidade” (1Cor 12,9)
Só assim salvou-nos verdadeiramente: a partir de dentro, das raízes mais profundas, escondidas, obscuras de nosso coração. Porque se, para salvar-nos, tivesse sido somente Sua força, mesmo que fosse a benéfica força de um milagre, certamente estaríamos curados do mal, mas não transformados no coração.
Teríamos a confirmação – mas isso já sabemos desde sempre - de que a força conhece esta ambiguidade, a saber, a força de fazer o mal e a força de fazer o bem. Mas sempre com força. E nosso coração teria continuado a confiar na força, desejando que fosse uma força benéfica e não maléfica.
Deus, contudo, nos salvou do mal não com a força mas com a fragilidade do amor. E por isso estamos verdadeiramente curados. Porque fizemos a experiência de que o amor, quando autêntico e radical, nos salva. Salva-nos, até mesmo de nós mesmos, de nosso desejo de poder, de nosso confiar na força, da ilusão de possuir a vida através da força.
Esta é a salvação: confiar-se ao amor!
Confiar-se, pois nenhuma outra coisa transforma o coração, nenhuma outra coisa transforma o mundo. A violência que, nesses últimos dias, nos cerca e que parece ser a única linguagem em uso, torna-se impotente diante do amor que salva.
Necessitamos de alguém que, antes de nós e por nós (Cristo sofreu por nós, deixando-nos um exemplo para que sigamos seus passos, 1Pd 2, 21), percorresse essa estrada, essas humildes sendas, para dizer-nos que essa é a verdadeira estrada, a única verdadeira estrada. E nessa estrada caminhasse até o fim, até aquela cruz em que o amor – o amor frágeil e derrotado – se doa totalmente, para renascer vivo para sempre.
A força e a violência da qual fazemos experiência neste tempo, por isso, nos poderão tirar tudo, mas não a vida que nasce daquele amor. Essa é doada para sempre.
Isso é o Natal. Que essa Criancinha nos pegue pela mão e nos conduza na mesma estrada, a que Deus esscolhe; somente nela entregamos ao amor nosso coração, nela estamos salvos de verdade.
Dirijamos nosso olhar à Gruta de Belém, para ver que Deus escolheu aquilo que está longe da força, daquilo que é totalmente diferente da força: Deus escolheu a carne de uma criancinha!

Feliz Natal a todos!

Fr. Pierbattista Pizzaballa, OFM,
Custódio da Terra Santa