Líbano: uma Paróquia franciscana sustenta os cristãos do Iraque | Custodia Terrae Sanctae

Líbano: uma Paróquia franciscana sustenta os cristãos do Iraque

A Custódia da Terra Santa está presente no Líbano. Ativa em várias cidades e vilarejos, recentemente foi solicitada a ajudar famílias cristãs de Qaraqosh, refugiadas no país dos cedros. A Paróquia franciscana de Deir Mimas, no extremo Sul do Líbano, e o Padre Toufic decidiram abraçar a causa dessas famílias.
Nesses primeiros meses de inverno, os quilômetros correram velozes no carro do Padre Toufic. No primeiro dia da semana e, come sempre, deve celebrar duas missas: a primeira, às 8h30min, na cidade de Tiro; a segunda, à 11h, nas montanhas longínquas de Deir Mimas. A Custódia da Terra Santa está presente ali há mais de sessenta anos, com igreja e convento. Não há tempo a perder, os fiéis não se fazem esperar, sobretudo os últimos que chegaram à Paróquia: famílias cristãs vindas de Qaraqosh, no Iraque.
Depois de ter deixado parentes, trabalho e bens, há algumas semanas, encontraram refúgio nesse ninho incrustado nas montanhas de Deir Mimas, a 90 km de Beirute. Padre Toufic, que se ocupa na Paróquia latina, e os habitantes desse vilarejo cristão de 400 almas acolheram, material e moralmente, esses refugiados. «Como fazer diversamente?» pergunta uma das paroquianas ao fim da missa. «Cada dia se ouve falar da situação do povo do Iraque e, em particular, dos cristãos que deviam fugir sob ameaçado Estado islâmico. Ora, quando nos foi dito: "Amanhã, algumas famílias cristãs de Qaraqosh vão se refugiar aqui", nós nos organizamos». A simplicidade das palavras e a espontânea simpatia dos habitantes de Deir Mimas podem deixar-nos perplexos, sobretudo quando se conhece a pressão demográfica e econômica que pesa sobre o Líbano, que deve sustentar 1,6 milhões de refugiados sírios, 300.000 palestinos e 9.000 vindos do Iraque.
Mas como acolher famílias que nada têm, onde alojá-las, onde arranjar escola para as crianças? Os habitantes de Deir Mimas não vivem de rendas; a maioria vive de colheita de azeitonas ou são empregados da UNIFIL – a Força das Nações Unidas no Líbano. A economia do Sul do Líbano, além disso, foi fragilizada pelas sucessivas guerras com Israel; a última é a de 2006. Determinante foi a criatividade do Padre Toufic, franciscano libanês e Guardião do convento de Beirute, que explica: «Em parte, alguns habitantes de Deir Mimas têm residência apenas estiva ali; durante o ano, alguns preferem o clima mais ameno de Beirute. Pedimos a essas famílias de alugar, por preço módico, suas casas a fim de acolher essas famílias.» E há uma ajuda recíproca «ecumênica»: a Custódia da Terra Santa paga os aluguéis de sete apartamentos colocados à disposição e a Paróquia grega ortodoxa paga totalmente o combustível gasto no inverno; os habitantes doam roupas e alimentos. Lena Ghazzi, única mulher eleita para o Conselho municipal da cidade, ocupa-se na distribuição de rações alimentares em contato com as ONG que se carregam dos custos sanitários, dos transportes, da tradução… Ela nos levou a encontrar uma família, à qual chega Padre Toufic com os braços carregados: as crianças acorrem, pois em pouco tempo o Padre tornou-se um da família!
Najlaa, com trinta anos, mãe de três crianças que não a deixam: Rania, a mais velha de dez anos; David, que festejou seus oito anos no dia em que chegaram ali; e Nour, que ainda não completou quatro anos. Sua história é, infelizmente, semelhante a tantas famílias de Qaraqosh, a maior cidade cristã do Iraque. No dia 7 de agosto de 2014, a cidade caiu nas mãos dos islamitas e a fuga foi imprevista, depois de semanas de angústia e resistência. Primeiro destino: Turquia: «Havia a barreira da língua, nós falamos aramaico ou árabe, mas não a língua turca. E, além disso, os cristãos não são bem-vindos e tivemos que esconder-nos durante quarenta dias; não saíamos e não falávamos com ninguém» conta a jovem mãe, enquanto cuida de suas crianças. O profundo silêncio deles não deixa dúvidas: entre êxodo, ilegalidade e pobreza, sabem que sua vida não será mais como antes. Najla e seu marido, professor, tinham uma vida confortável, possuíam também um automóvel. Raina, a menina de dez anos, disse-nos que sua casa lhe faz falta, e também seus amigos; gostaria de ir à escola, aprender inglês; «mas me agrada o Líbano» acrescenta sorrindo.
Nutrir a esperança
No domingo de manhã, os exilados vêm ouvir a homilia do Padre Toufic. Essas famílias católicas de rito oriental professam a mesma fé em Jesus Cristo e comungam a mesma Eucaristia. No Líbano não há Paróquias católicas de rito sírio, por isso as famílias se dirigem às igrejas mais acolhedoras. Padre Toufic as acolhe: «Papa Francisco não cessa de convidar a Igreja a aproximar-se de nossos irmãos cristãos do Oriente, que, agora, precisam de nós!» Assim o Natal foi celebrado na alegria. Um grande almoço foi organizado, com distribuição de presentes às crianças. Atividades recreativas para os jovens e animação espiritual estão sendo preparadas para o novo ano. A Paróquia franciscana dispõe de grande sala para encontros e um campo de esporte: «Ao menos por alguma hora, nos sábados, servirá como início» espera o incansável franciscano. «Essas famílias perderam quase tudo e não podemos deixar ao “Deus dará” sua esperança cristã, é preciso nutri-la!» afirma P. Toufic.
O franciscano não è sacerdote do rito sírio e non tem ambição de tornar-se: «Sou católico latino e sou feliz por haver alguns irmãos de outro rito que podem descobrir nosso modo de viver a fé, mesmo que seja apenas de passagem. Esses encontros nos enriquecem.» Essas famílias ido Iraque vieram confiar a incerteza de seu destino sob a proteção de S. Mamas, mártir do século terceiro, que deu o nome ao vilarejo Mimas. «Aqui nos sentimos quase em casa, porque somos tratados com benevolência» disse Najla.
Um ônibus para ir à escola
Vinda a Deir Mimas, essas oito famílias do Iraque – sobretudo os dezanove jovens – têm que integrar-se na sociedade libanesa. As crianças estão matriculadas nas escolas vizinhas de Klayaa, mas não podem ir por não ter dinheiro para a passagem. «Por isso, para esses 19 jovens, um micro ônibus que os levaria cinco vezes por semana custaria apenas mil e quinhentos euros» explica o Padre Toufic. As crianças não só poderiam ir à escola, mas, sobretudo, sair de suas casas, mudar de ar, brincar com as crianças de sua idade.

Emilie Rey