“O povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz; sobre os que habitavam numa terra de trevas brilhou uma luz” (Is. 9,1).
Estamos vivendo um tempo difícil, no qual tragédias e violências se sucedem, que nos enchem de medo. A descrição do fim dos tempos, que a Liturgia nos propõe antes da vinda do Senhor (Mc 13, 24-32), parece o eco de uma crônica atual, que faz com que seja difícil esperar um Natal com sentimentos de alegria, festa e vida. O medo parece comandar nosso agir, mesmo nas pequenas ações quotidianas. Sobretudo, temos medo do outro, como se tivéssemos perdido a coragem de acreditar no outro. Não se confia mais no outro, somos tentados a nos fechar em nosso pequeno mundo. Temos medo do muçulmano, do judeu, do oriental ou do ocidental, depende onde nos encontramos. O Inimigo tornou-se “o outro”; pensamos que “os outros” estejam contra nós, que nos ameaçam e nos roubem a esperança de um mundo seguro, de um futuro melhor.
Na Síria, no Iraque, na Terra Santa, no Oriental e no Ocidente, parece que a força da violência seja a única voz possível para enfrentar a violência que nos ameaça.
Esperar o Natal nessas circunstâncias interroga nossa fé e faz nascer a necessidade de uma esperança maior. São esses os sentimentos que nos acompanharam ao participar de várias cerimônias: elevação da árvore do Natal e bênção do presépio. Muitas vezes, durante a celebração da festa, escutávamos a sirene do alarme, sinal evidente de desencontros e desordens. E, sempre reconhecemos um sinal de uma situação difícil. Parecia que estávamos fora do tempo de da história.
Mas não é assim. O evangelho diz-nos que a plenitude do tempo se realizou num tempo difícil, quando João, no deserto, convidava a preparar a Via do Senhor e pregava um batismo de conversão. A festa, as luzes, as cores, apesar de ser necessárias, desejadas, celebradas nas circunstâncias em que vivemos, nos levam a pensar com mais verdade sobre o sentido originário do Natal: Deus que entra em nosso tempo e em nossa história. Nosso tempo e nossa história de hoje.
Natal diz-nos que Deus ama a vida, que Ele mesmo é vida. Essa verdade é o motivo definitivo e bom por nos encontrar nesta terra. Porque é tempo para buscar motivações autênticas, razões últimas para continuar a viver e a esperar. Razões e motivações que permaneçam, que se mantenham, que não sofram as fases inseguras de nossas angústias ou nossas exaltações, que tenham um sabor de justa medida, de horizonte real. É tempo de buscar perguntas e respostas, orientações, de achar o Oriente.
E esse Oriente é Cristo, Homem e Deus. O Natal convida-nos, portanto, a esse Oriente.
Natal diz-nos que nossa vida é Advento, que caminhamos rumo a um futuro, talvez dramático, cansativo, mas no qual – é certo – encontraremos a Ele. Natal diz-nos que esse futuro, pelo qual tanto nos preocupamos, esse futuro que agora inicia, já iniciou: é Jesus nascido, morto e ressuscitado.
Não caminhamos rumo ao nada, rumo ao desconhecido, rumo ao escuro, mas rumo a algo que já aconteceu e que permanece, que se realiza sempre e de qualquer modo, que não podemos destruir nem se quiséssemos.
Caminhamos rumo a um encontro.
Então este tempo difícil será um tempo bom, restituir-nos-á a certeza de que é tempo de encontro; tornar-nos-á - finalmente – necessitados de algo que seja diferente de nós, tornar-nos-á mais atentos a quem é nosso vizinho, porque o futuro, rumo ao qual caminhamos, somente poderá ser o cumprimento de todas as relações pelas quais tenhamos tido zelo, aqui, agora. Também nestas circunstâncias dramáticas.
Meus votos natalinos, neste ano, são os de percorrer com confiança essa estrada aberta no deserto de tantas nossas vidas, rumo a esse futuro bom, que possui um semblante único: o da misericórdia do Pai, que sempre nos escuta, com fidelidade, também hoje.
Feliz Natal!
Image Custodia Terræ Sanctæ
Master of the Heralding to the Shepherds, who was active in Naples during
the second quarter of the 17th century, Adoration of the Shepherds,
Terra Sancta Museum, Custody of the Holy Land
Image © Galleria Canesso
Estamos vivendo um tempo difícil, no qual tragédias e violências se sucedem, que nos enchem de medo. A descrição do fim dos tempos, que a Liturgia nos propõe antes da vinda do Senhor (Mc 13, 24-32), parece o eco de uma crônica atual, que faz com que seja difícil esperar um Natal com sentimentos de alegria, festa e vida. O medo parece comandar nosso agir, mesmo nas pequenas ações quotidianas. Sobretudo, temos medo do outro, como se tivéssemos perdido a coragem de acreditar no outro. Não se confia mais no outro, somos tentados a nos fechar em nosso pequeno mundo. Temos medo do muçulmano, do judeu, do oriental ou do ocidental, depende onde nos encontramos. O Inimigo tornou-se “o outro”; pensamos que “os outros” estejam contra nós, que nos ameaçam e nos roubem a esperança de um mundo seguro, de um futuro melhor.
Na Síria, no Iraque, na Terra Santa, no Oriental e no Ocidente, parece que a força da violência seja a única voz possível para enfrentar a violência que nos ameaça.
Esperar o Natal nessas circunstâncias interroga nossa fé e faz nascer a necessidade de uma esperança maior. São esses os sentimentos que nos acompanharam ao participar de várias cerimônias: elevação da árvore do Natal e bênção do presépio. Muitas vezes, durante a celebração da festa, escutávamos a sirene do alarme, sinal evidente de desencontros e desordens. E, sempre reconhecemos um sinal de uma situação difícil. Parecia que estávamos fora do tempo de da história.
Mas não é assim. O evangelho diz-nos que a plenitude do tempo se realizou num tempo difícil, quando João, no deserto, convidava a preparar a Via do Senhor e pregava um batismo de conversão. A festa, as luzes, as cores, apesar de ser necessárias, desejadas, celebradas nas circunstâncias em que vivemos, nos levam a pensar com mais verdade sobre o sentido originário do Natal: Deus que entra em nosso tempo e em nossa história. Nosso tempo e nossa história de hoje.
Natal diz-nos que Deus ama a vida, que Ele mesmo é vida. Essa verdade é o motivo definitivo e bom por nos encontrar nesta terra. Porque é tempo para buscar motivações autênticas, razões últimas para continuar a viver e a esperar. Razões e motivações que permaneçam, que se mantenham, que não sofram as fases inseguras de nossas angústias ou nossas exaltações, que tenham um sabor de justa medida, de horizonte real. É tempo de buscar perguntas e respostas, orientações, de achar o Oriente.
E esse Oriente é Cristo, Homem e Deus. O Natal convida-nos, portanto, a esse Oriente.
Natal diz-nos que nossa vida é Advento, que caminhamos rumo a um futuro, talvez dramático, cansativo, mas no qual – é certo – encontraremos a Ele. Natal diz-nos que esse futuro, pelo qual tanto nos preocupamos, esse futuro que agora inicia, já iniciou: é Jesus nascido, morto e ressuscitado.
Não caminhamos rumo ao nada, rumo ao desconhecido, rumo ao escuro, mas rumo a algo que já aconteceu e que permanece, que se realiza sempre e de qualquer modo, que não podemos destruir nem se quiséssemos.
Caminhamos rumo a um encontro.
Então este tempo difícil será um tempo bom, restituir-nos-á a certeza de que é tempo de encontro; tornar-nos-á - finalmente – necessitados de algo que seja diferente de nós, tornar-nos-á mais atentos a quem é nosso vizinho, porque o futuro, rumo ao qual caminhamos, somente poderá ser o cumprimento de todas as relações pelas quais tenhamos tido zelo, aqui, agora. Também nestas circunstâncias dramáticas.
Meus votos natalinos, neste ano, são os de percorrer com confiança essa estrada aberta no deserto de tantas nossas vidas, rumo a esse futuro bom, que possui um semblante único: o da misericórdia do Pai, que sempre nos escuta, com fidelidade, também hoje.
Feliz Natal!
Image Custodia Terræ Sanctæ
Master of the Heralding to the Shepherds, who was active in Naples during
the second quarter of the 17th century, Adoration of the Shepherds,
Terra Sancta Museum, Custody of the Holy Land
Image © Galleria Canesso