"Passo a maior parte em Aleppo e faço questão de ali estar". Assim Mons. Georges Abou Khazen fala de seu ministério como Bispo católico de Aleppo e Vigário apostólico da Igreja do rito latino na Síria: como pastor com seu rebanho sofredor.
Em que ocasião o Senhor encontrou o Ministro geral e o Custódio da Terra Santa, quando visitaram a Síria?
Vimo-nos por ocasião da missa na Paróquia de Aleppo e, depois, num outro convento, almoçamos juntos. Após a missa, o Ministro geral deu-nos um azulejo da Porta Santa de S. Pedro, de Roma. Tinha sido fechada em 2000, mas foi aberta no ano passado para o Jubileu da Misericórdia. Isso representou para nós um sinal muito forte: a solidariedade para conosco e o símbolo de que somos parte da grande família da Igreja católica. Levar um azulejo a Aleppo, onde hoje há tanta destruição, quer também dizer levar simbolicamente a esperança de reconstrução. E esperamos que ela aconteça.
O que significou para o povo a visita deles?
Foram hóspedes da Paróquia S. Francisco e visitaram os Frades franciscanos, que ali trabalham. Celebraram a missa e dirigiram a palavra ao povo, que ficou muito impressionado, comovido e entusiasmado. Ser visitado por essas personalidades dá coragem, dá esperança. Para o povo significa poder pensar de ter voltado à normalidade.
O senhor que vive há anos na Síria, o que deseja que fosse conhecido da situação de hoje? Do que não se fala o bastante?
Não se fala o suficiente da verdade. Gostaríamos que a gente compreendesse o que está sucedendo e porque está acontecendo. O modo com que a maior parte dos MCS conta toda a crise da Síria não corresponde à verdade. Por exemplo, refiro-me à intervenção estrangeira na Síria. Por que aconteceu? Como também o bombardeio americano. Todos falaram disso, mas não falaram das vítimas: 400 vítimas entre civis e dois vilarejos completamente destruídos. Não é também crime bombardear as infraestruturas e as pontes? Disso nenhum fala. Os americanos colocaram fora de uso todo o sistema elétrico, bombardearam as barragens, o que arrisca de ser grave dano. E quantas mortes acontecerão por isso? Que culpa tem a pobre gente?
O que significa para o Senhor como Bispo, Pastor de um povo que está sofrendo como o da Síria?
Para mim é sempre doloroso ver a gente sofrer. Ver que para as pessoas falta de tudo. Em Aleppo, por exemplo, há mais de um ano falta energia elétrica. Por alguns meses também não tivemos água. Não se fala do fato de que sofremos sanções, o embargo contra Síria para prejuízo dos civis. Não podemos importar remédio, máquinas para hospitais, gasolina, diesel. E quem sofre por isso? Claro, não os grandes, mas a população. Contudo, nestes tempos difíceis, nós nos sentimos ainda mais unidos aos fiéis e à gente próxima de nós. Como pastor, espero que possa sempre estar vizinho ao meu rebanho.
Diante da pobreza e dor, como encorajais as pessoas a crer que Jesus não as abandona?
Procuramos insistir sobre a esperança como virtude. Não sempre os cristãos tiveram tempo fácil. Aqui, muitos são filhos ou netos de mártires e isso reforça a fé, a identidade cristã. Em Damasco, no ano 1880, por exemplo, foram massacrados mais de oito mil cristãos. Alguns, ainda hoje, possuem a foto de seu avô ou bisavô, pendurado na porta ou na parede de sua casa. "Foi morto pela fé", nos dizem e eles se apegam ainda mais à fé.
Muitos cristãos abandonaram a Síria, todavia alguns permaneceram. O que podeis fazer para eles?
A metade da população da Síria é prófuga. Talvez alguns cristãos voltarão. Hoje, graças à ajuda de nossos benfeitores, procuramos fazer de tudo para que sobreviva que permaneceu. Estamos ajudando na reconstrução de algumas casas. Pensamos em criar uma pequena empresa, para que os sírios possam trabalhar para sustentar-se. Pode-se pensar num retorno só quando terão casa ou trabalho.
O que espera, hoje, para a Síria?
Que cesse a violência, que cesse esse rio de sangue, que cheguem paz e reconciliação.
Pode contar-nos um exemplo significativo da vida nestes tempos na Síria?
Havia um casal que, durante oito anos, buscava ter um filho. Esse filho, com doze anos, foi morto por um estilhaço de bomba lançada sobre civis, em Aleppo. Era o único filho do casal. Em sua imensa dor, fizeram um grande ato de fé: decidiram ficar em Aleppo. Rezaram dizendo: "Que o Senhor nos dê a força de testemunhar a fé. Que nosso filho seja como um sacrifício aceito por Deus para que impeça a morte de outras crianças de sua idade".
Beatrice Guarrera